SOBRE O CURSO

Nas Américas, a contracultura e o movimento hippie. Na Europa, Swinging London e Maio de 1968. Por todo o lado, o que se viu no Pós-Guerra foi um grande questionamento sobre as formas tradicionais do viver e uma busca insistente por uma expansão do existir. Contudo, essas tentativas de transformação coabitaram na contemporaneidade com a globalização financeira e a conversão da sociedade em um mercado consumidor. A esperada época de Aquários não se realizou como anunciada na arte e esta tensão permanente entre mudança e utilitarismo transformou nosso tempo em uma época em busca de sua própria decifração.

Vários caminhos se mostram relevantes nesta empreitada de entendimento da situação atual. A uberização na economia, a indústria de massas nas artes, a questão da decolonização nas ciências sociais, o processo migratório na geopolítica; exemplos que comportam em si a dinâmica de nossa cultura e estão aptos a fornecerem um diagnóstico da modernidade.

Dentre tantas expressões atuais, uma se destaca como incontornável no esforço de uma melhor compreensão de nosso tempo. Sua atuação alcança as mais diversas áreas, da estética à política. Sua presença é verificada tanto nas questões de foro íntimo quanto nos debates públicos. Sua capacidade de amalgamar em torno de si o embate de forças existentes na sociedade parece ser especialmente fecundo: trata-se da sexualidade.

No curso “Subjetividade e Sexualidade”, exploraremos a questão da sexualidade, não como uma disposição estática, previamente orientada e, consequentemente, determinada. Mas, partindo de estudos filosóficos, prioritariamente da segunda metade do século XX, tomaremos a sexualidade como uma construção histórica e uma produção circunscrita a uma cultura determinada. Para tanto, recorreremos a uma comparação com a subjetividade, tendo como ponto de partida a correspondência entre a forma com que uma cultura compreende o sujeito com suas possibilidades de inscrição sexual em seu tempo. Neste sentido, estaremos mais interessados em captar os mecanismos de atuação tanto sobre o que se define como sujeito quanto sobre o que se designa gênero.

Neste percurso, destacaremos duas discussões fundamentais ocorridas no século passado e que ainda encontram ecos nos debates atuais: a emancipação da sexualidade de um determinismo puramente biológico e o reconhecimento de um caráter construtivo na afirmação do gênero. No primeiro ponto, se destacará a crítica de Simone de Beauvoir, presente em “O Segundo Sexo” a Freud. No segundo ponto, será apresentado o trabalho realizado por Michel Foucault em “A História da Sexualidade” e sua utilização por Judith Butler na produção do debate em torno da questão de gênero.

Assim, mais do que ser capaz de oferecer uma leitura inequívoca sobre a atualidade, o curso pretende fomentar um debate sobre a forma como nos entendemos enquanto humanos e os impactos das disposições presentes em nossa cultura.

SOBRE O PROFESSOR

Marcelo S. Norberto, Doutor em Filosofia, é professor e pesquisador (CCE/PUC-Rio). Tem trabalhos publicados sobre Filosofia Francesa Contemporânea, com ênfase em Ética e Filosofia Política. Autor de “O drama da ambiguidade – a questão da moral em O ser e o nada” (Edições Loyola/2017), é co-organizador de “Sartre Hoje – 2Vol” (Editora Fi/2017), “Sartre e a política” (Editora PUC-Rio e Via Verita/2019), “Sartre e a Estética” (Editora PUC-Rio e Numa Editora/2021) e “Sartre e a Ética” (Editora PUC-Rio e Numa Editora/2022). Coordena também a coleção luso-brasileira “Fenomenologia e Cultura” (Nau Editora, Editora PUC-Rio, Documenta PT). Também é um dos coordenadores do Curso de Formação em Psicologia Existencial do IPA/RJ.